25 de setembro de 2012

Ainda que seja um dia... - Um pouco das minhas 'estórias' -



Albertine foi até a varanda da frente da casa e sentou na cadeira de balanço. O dia estava quente, as cores eram vivas, porém cobertas com tons amarelados, por causa da itensidade dos raios do sol. Ela pensava: "Minha vida agora será aqui?". Fazia vinte dias que sua avó falecera e ela fora levada para morar na casa de sua tia Consuêlo (a chamava de tia, mas era apenas a esposa de seu tio), que era uma mulher calada e observadora. Seu tio foi buscá-la logo que organizaram um quarto para a moça ficar. Albertine tinha dezenove anos, era bonita, cabelos e olhos castanhos, pele alva e boca em um tom de rosa, meio apagada. Sabia ler e escrever, mas não aprendera nenhuma profissão. Morava com a avó, que já era muito idosa. Seus pais faleceram em um acidente em alto-mar quando ela tinha apenas três anos de idade. Daí passou a morar com a avó, que agora também falecera, deixando-a sob os cuidados dos tios, que lhe eram praticamente estranhos. Não tanto por tio Ângelo, irmão de sua mãe, que lhe demonstrava grande afeição, mas por causa de tia Consuêlo, que mal lhe abria a boca para conversar o mínimo assunto.
Ela olhava para o mato em frente a casa e para a poeira, que podia ser vista através da luz. Seu coração parecia dormir, estava calmo como um lago. Amava sua avó, mas acreditava que ela estava feliz, em um lugar bonito, e que lhe sorria através das nuvens. Não sentia dor, apenas saudade...
Os dias haviam passado monótonos e silenciosos, ela falara poucas vezes, apenas para perguntar uma coisa ou outra a tia, já que não conhecia bem a casa onde estava vivendo.
Os meses foram passando e Albertine sentiu-se cada vez mais acostumada com a vida na casa dos tios, mas sentia falta de algo. Perguntou ao tio se ela não tinha como lhe arranjar um trabalho, alguma ocupação. Este lhe prometeu que falaria com os amigos e, caso conseguisse algo, logo lhe comunicaria. Ângelo não era um homem rico, mas tinha terras e animais, a esposa não trabalhava e eles não tinham filhos. Logo viviam muito bem. Para ele era uma alegria ter Albertine em casa, já que a mulher mal conversava. Para Albertine era uma tortura passar os dias ao lado da tia, sempre silenciosa, como olhos muito compenetrados e investigadores. Não parecia em nada com sua avó, sempre atenciosa e sorridente. Com a avó podia falar qualquer tipo de assunto, ela sempre vinha com sua histórias da juventude.
O dia amanhecera nublado e frio. Lá fora tudo estava úmido, e o cheiro de terra molhada tomava conta da varanda. Albertine estava lendo um livro de poesias quando seu tio apareceu.
- Acho que consegui algo para você.
- Uma ocupação?
- Sim, na livraria do Sr. Fausto. Quer ir até lá, conversar com ele?
- Claro titio. Deixa-me pegar meu xale. Volto em um minuto.

[...]

Continua na próxima postagem...

Anne Dias


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